
Sobre a cidade Paraíso
por Rafaello Merisi di Caravaggio
O lugar é meio estranho, não é urbano também não é totalmente rural, fica entre o centro capital e o litoral; cercado de montanhas, mais parece uma grande panela, uma panela que isola      seu interior       do resto mundo, uma panela que represa o lixo, a lama a alma... lixo material, lixo moral, lixo religioso, lixo pra todos os gostos que misturadas à lama das estradas não pavimentadas (que levam a Lugar nenhum) infectam e temperam essa sopa fria e monótona. Parada, estagnada, imóvel, em meio ao lamaçal material e moral, ela a cidade que não fede nem cheira, agoniza mas não morre, existe mas não vive.
A cidade sopa perdeu o doce de sua infância tarde: aos 11 anos; perdeu para os Homens velhos, gordos e peludos que a violaram, veloz e vorazmente... os jovens são todos velhos; velhos de idades que variam de 15 anos aos... Velhos de olhos grandes, pobres, tristes, redondos e podres como ervilhas passadas que bóiam sem enxergar a felicidade do esgoto que corre livre e desimpedido sobre suas cabeças e desembocam em suas narinas; das mãos escamosas e inúteis desses velhos prolongam-se vagens inúteis e incolores com tecos de unha nas pontas, os pés são magros, melancólicos e cansados de sempre chegar a Lugar nenhum. A fauna era pobre composta por um um pedaço de Boi babão que mais parecia uma galinha... não mugia, não lia e nem via e havia também estranhas Moscas albinas. A flora não passava de pitadas de salada de capim gilete mais ou menos cortante que rompiam a barreira da lama.
Uma vez foi eleito para a prefeitura um poste duro como uma Rocha e burro feito uma porta, mas na verdade o poste não passava dum canudinho maleável usado por um chupim preguiçoso para chupar vadiamente o caldinho dessa sopa gordurosa.
Noutro dia pensaram que a morte seria uma boa solução para por fim a agonia e a podridão da cidade, então um homem bem vestido usou insetiCida... resultado: broxou!! O insetiCida estava há muito vencido, não matava nem Moscas, serviu apenas como analgésico que anestesiava vagabundamente a dor e a agonia da cidade que continuava a ser molestada, então a cidade surda ouviu um zum zum zum era o zunido de MoscaZ brancaZ Zombeteiras preZaZ na gordura pegajoZa a sopa de lama; Zombavam e zoavam esperançoZaZ de atingir algum coração ouvinte. 
Corre a boca de Matilde que nesse dia, Deus com seus olhos graves olhou para essa sopa grossa, insossa e gelada, tapou o nariz, gargalhou deu as costas e saiu depois de bater a lama de suas sandálias, já o diabo que não era bobo nem nada ficou calado no conforto quentinho do inferno e fingiu que nada não viu e a cidade voltou a dormir furiosamente cercada por suas montanhas mais ou menos altas...